HEMOSTASIA E DISTÚRBIOS DA COAGULAÇÃO
A hemostasia
pode ser definida como uma série
complexa de fenômenos biológicos que ocorre
em imediata resposta à lesão de um
vaso sanguíneo com objetivo de deter a
hemorragia. O mecanismo hemostático inclui
três processos: hemostasia primária, coagulação
(hemostasia secundária) e fibrinólise.
Coagulação: consiste na conversão de uma proteína solúvel do plasma, o fibrinogênio, em um polímero insolúvel, a fibrina, por ação de uma enzima denominada trombina. A coagulação é uma série de reações químicas entre varias proteínas que convertem pró-enzimas (zimógenos) em enzimas (proteases). Essas pró-enzimas e enzimas são denominadas fatores de coagulação. A ativação destes fatores é provavelmente iniciada pelo endotélio ativado e finalizado na superfície das plaquetas ativadas e tem como produto essencial a formação de trombina que promoverá modificações na molécula de fibrinogênio liberando monômeros de fibrina na circulação.
A clássica cascata da
coagulação foi introduzida em 1964 . Neste modelo a ativação de cada fator da
coagulação leva a ativação de outro fator até a eventual formação
da trombina. Esses fatores são numerados de I ao XIII, com
seus respectivos sinônimos. O número correspondente para cada fator foi
designado considerando a ordem de sua descoberta e não do ponto de interação
com a cascata.
O modelo da cascata dividiu a seqüência da coagulação em duas
vias: a via intrínseca na qual todos os componentes estão presentes no sangue e
na via extrínseca na qual é necessária a presença da proteína da membrana
celular subendotelial, o fator tecidual.
O sistema de coagulação por muito tempo foi considerado
constituído apenas por fatores de coagulação e plaquetas. Atualmente,
considera-se um sistema multifacetado, extremamente balanceado, no qual
participam componentes celulares e moleculares.
Iniciação:O processo de coagulação sanguínea se inicia com a exposição do
fluxo sanguíneo a células que expressam fator tecidual. A expressão de FT é iniciada
por lesão vascular ou por ativação endotelial através de substâncias químicas,
citocinas ou mesmo processos inflamatórios.
Amplificação: A adesão de plaquetas no colágeno subendotelial é mediado pelo
receptor de colágeno plaquetária específica e fator de vonWillebrand, os quais
formam ligações entre plaquetas e fibras de colágeno para ativar as plaquetas. A
pequena quantidade de trombina gerada na fase de iniciação amplifica o processo
da coagulação.
Propagação: A fase de propagação é caracterizada pela produção de complexos
tenases e protombinases que são agrupados na superfície das plaquetas ativadas.
O complexo
protrombinase intensifica em muito a produção de trombina que converte o
fibrinogênio solúvel em fibrina e também ativa o fator estabilizador da fibrina
SISTEMA
FIBRINOLÍTICO : Condições normais, coagulação e fibrinólise encontram-se em equilíbrio
dinâmico de tal forma que, ocorrendo
simultaneamente, enquanto a primeira interrompe a perda
sangüínea, a última remove a fibrina formada em excesso e o sangue volta a
fluir normalmente no interior do vaso restaurado.
Avaliação da Hemostasia
Primeiro contanto na clínica com o paciente, deve ser feito
o interrogatório dirigido buscando informações sobre
sangramentos anormais, informações sobre o uso de drogas anticoagulantes
ou antiagregantes plaquetárias devem ser anotadas com destaque nos
registros do paciente, assim como a dose diária, o
tempo de uso e a última
administração. No caso de o paciente possuir
antecedentes cirúrgicos, o relato do comportamento da hemostasia naqueles
eventos é o melhor guia para identificar os eventuais, evitar complicações.
Os exames tradicionais, em laboratório, utilizados para avaliação da
coagulação devem ser interpretados em conjunto, associados aos eventos clínicos
observados e, desta forma, poderão ajudar a
determinar a causa básica do sangramento anormal.
Tempo de Sangramento segundo Duke (TS). Requer um número suficiente de plaquetas com função normal. O resultado normal é menor que três minutos. Está aumentado quando a resposta vascular é alterada, na plaquetopenia e na disfunção plaquetária.
Testes da Atividade dos Fatores de Coagulação:
Tempo de Tromboplastina Parcial(TTP): Cronometra o tempo de formação do coágulo, acrescenta-se, à amostra
de pobre em plaquetas. O tempo normal varia entre
60 a 110 segundos. Está relacionado com alterações dos
fatores XII, XI, IX ou VIII. Deve-se descartar a presença de anticoagulante.
Tempo de Tromboplastina Parcial Ativado
(TTPa) : Cronometrado o tempo de formação do
coágulo Normalmente o tempo é menor que 35 segundos, podendo variar entre 25 e
39 segundos. É particularmente útil no acompanhamento dos efeitos da heparina e
na determinação de deficiências dos fatores IX e VIII.
Tempo de Coagulação Ativado (TCA 1% é adicionado como superfície ativadora dos fatores XII e XI.
Os valores normais estão situados entre 90 e 120 segundos. É de grande
utilidade na monitoração da administração de heparina e para guiar sua
neutralização pela protamina.Tempo de Protrombina (TP) : Tromboplastina tecidual é acrescentada à amostra de sangue, desta forma excluindo a participação dos fatores XII, XI, IX e VII, fazendo com que o resultado seja reflexo da ativação da via extrínseca e da via comum final. Valor normal: entre 10 e 14 segundos, entretanto, é mais bem avaliado como uma porcentagem do tempo obtido pelo controle (atividade da protrombina).Determina a atividade dos fatores II (protrombina), V, VII e X, cuja deficiência é acompanhada pelo alargamento do tempo necessário à formação do coágulo.
Tempo de Trombina (TT): Trombina é acrescentada à amostra de sangue e o tempo de formação do coágulo é cronometrado. Este teste mede a velocidade de conversão de fibrinogênio em fibrina, última fase da coagulação, identificando a hipofibrinogenemia e a desfibrinogenemia. Valores normais estão situados entre 9 e 12 segundos.
Tempo de Reptilase (TR): enzima derivada do veneno da Bothrops jararaca que converte fibrinogênio em fibrina por ação direta Valor normal: entre 14 e 21 segundos.
Dosagem do Fibrinogênio: Um excesso de trombina é adicionado ao plasma diluído fazendo com que o tempo de coagulação dependa apenas da concentração de fibrinogênio Valor normal: entre 200 a 450mg/L.
Tromboelastograma (TEG): A partir de uma amostra mínima de sangue (3 ml) podem ser
visualizadas todas as fases da coagulação. A partir dele podemos identificar se
há deficiências de fatores, fibrinogênio ou plaquetas, ou se está ocorrendo
fibrinólise.
Distúrbios da Hemostasia-Alterações
Congênitas
Hemofilia Deficiência do fator
VIII de caráter hereditário recessivo e ligada ao sexo
é a mais comum das coagulopatias congênitas. Os problemas vividos pelo
portador desta condição estão diretamente relacionados com a reduzida
concentração da proteína no sangue, que prejudica a formação de trombina
através de via intrínseca. Quando ocorre traumatismo importante ou necessidade de intervenção
cirúrgica, a atividade do fator deve ser elevada a pelo menos 50% e deve ser
mantida ao redor de 30% no período pós-operatório imediato
Hemofilia B: Deficiência do fator IX
(doenças de Christmas) de caráter
hereditário
recessivo e ligado ao sexo deve ser distinguida da hemofilia A pela determinação específica do fator deficiente. O
número de afetados é aproximadamente seis vezes menor do que para a hemofilia
A. Em situações em que exista risco de sangramento, os cuidados devem ser
semelhantes aos da hemofilia clássicaDoença de von Willebrand: Deficiência do fator de Von Willebrand de caráter hereditário dominante e autossômico afeta tanto a hemostasia primária, pois funciona como mediador da adesividade plaquetária, quanto a secundária, que regula a produção ou liberação do fator VIII:C que participa da via intrínseca.
ALTERAÇÕES ADQUIRIDAS DA HEMOSTASIA
Politransfusão: A necessidade de administrar grandes volumes de sangue estocado para corrigir hipovolemia termina por produzir distúrbios da coagulação. O principal responsável pela situação é a plaquetopenia diluicional.
Drogas: Heparina- Sua principal ação é formar um complexo com a antitrombina III (ATIII), fazendo com que aumente a velocidade de formação de complexo com a trombina, interrompendo o processo de coagulação.
Cumarínicos: Para que os fatores II, VII, IX e X funcionem normalmente é necessário que passem por uma reação química mediada pela vitamina K.Em situações críticas, o tratamento consiste na administração de plasma fresco congelado que possui níveis suficientes de todos os fatores envolvidos.
Doença do Fígado: Ocorre plaquetopenia devido ao seqüestro por hiperesplenismo, diminuição da síntese de fatores da coagulação proporcional à destruição dos hepatócitos e fibrinólise.
CIVD: O fluxo sangüíneo lento provocado por distúrbios hemodinâmicos e acompanhado da depressão do sistema retículo-endotelial devido à hipóxia, associado a fatores desencadeantes, tais como: transfusão incompatível, embolia amniótica, picada de cobra e o trauma de grande magnitude, estão associados ao aparecimento da síndrome de coagulação intravascular disseminada.
Agentes farmacológicos para reduzir a perda sanguínea
Anti-fibrinolíticos: Aprotinina: um potente agente anti-fibrinolítico. Sua potência molar é de 100 a 1000 vezes maior que o ácido tranexâmico o ácido épsilonamino-capróico. Reduções dramáticas de sangramento têm sido associadas a administração de aprotinina. Há relatos do seu uso em cirurgias cardíacas com redução de drenagem pós-operatória de 81%, da redução da queda de hemoglobina de 89% e da redução da necessidade transfusional em 91%.
Outros agentes anti-fibrinolíticos: Análogos de lisina: plasminogênio e plasmina se ligam a fibrina através dos seus sítios de ligação lisina.
Acetato de Desmopressina ou DDAVP DDAVP :é um análogo sintético de vasopressina que praticamente não tem efeito vasoconstrictor. Ele aumenta a concentração sérica e atividade da vWF, provavelmente por induzir sua liberação do endotélio.
LEONARDO SANTIAGO ORTIGOZA
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