Sífilis: diagnóstico,
tratamento e controle
A sífilis é
doença infecciosa crônica, que acomete praticamente todos os órgão e sistemas,
e, apesar de ter tratamento eficaz e de baixo custo, continua sendo um problema
de saúde pública até os dias atuais. O grande acometimento da pele e das
mucosas associou-a fortemente à dermatologia. Sua origem foi baseada em duas
teorias: na primeira, denominada de colombiana, a sífilis seria endêmica no
Novo Mundo e teria sido introduzida na Europa pelos marinheiros espanhóis que
haviam participado da descoberta da América; outros acreditavam que a sífilis
seria derivada de mutações e adaptações sofridas por espécies de treponemas
endêmicos do continente africano. Com a introdução da penicilina que, por sua
eficácia, fez com que muitos pensassem que a doença estivesse controlada,
resultando na diminuição do interesse por seu estudo e controle.
Posteriormente, mudanças na sociedade em relação ao comportamento sexual e o
surgimento da pílula anticoncepcional fizeram que o número de casos novamente
aumentasse. No final dos anos 70, com o aparecimento da síndrome da
imunodeficiência adquirida (AIDS), houve um redimensionamento das doenças
sexualmente transmissíveis. O papel da sífilis como fator facilitador na
transmissão do vírus HIV ocasionaria novo interesse pela sífilis e a
necessidade de estratégias para seu controle.
Os dados da
prevalência nos trópicos mostram que a sífilis, conforme a região, é a segunda
ou terceira causa de úlcera genital (outras são o cancro mole e herpes genital). Com relação à sífilis
congênita, os dados obtidos em programas de pré-natal e maternidades mostraram soroprevalências
elevadas, principalmente em países africanos. No Brasil, em 2003, estimaram-se
843 300 casos de sífilis. Não sendo doença de notificação compulsória, os
estudos epidemiológicos são realizados em serviços que atendem DST ou grupos
selecionados, como gestantes, soldados, prisioneiros, dentre outros.
A sífilis é
causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum, gênero Treponema.
A penetração do treponema é realizada por pequenas abrasões decorrentes da
relação sexual. Logo após, o treponema atinge o sistema linfático regional e,
por disseminação hematogênica, outras partes do corpo. A resposta da defesa local
resulta em erosão e exulceração no ponto de inoculação, enquanto a disseminação
sistêmica resulta na produção de complexos imunes circulantes que podem depositar-se
em qualquer órgão. Entretanto, a imunidade humoral não tem capacidade de
proteção. A imunidade celular é mais tardia, permitindo ao T. pallidum multiplicar
e sobreviver por longos períodos.
A
transmissão da sífilis é pela via sexual
(sífilis adquirida) e verticalmente (sífilis congênita) pela placenta da mãe
para o feto. O contato com as lesões contagiantes (cancro duro e lesões
secundárias) pelos órgãos genitais é responsável por 95% dos casos de sífilis. Outras
formas de transmissão mais raras e com menor interesse epidemiológico são por
via indireta (objetos contaminados, tatuagem) e por transfusão sanguínea.
A história
natural da doença mostra evolução que alterna períodos de atividade com
características clínicas, imunológicas e histopatológicas diferentes (sífilis
primária, secundária e terciária) e períodos de latência (sífilis latente). A
sífilis divide-se ainda em sífilis recente, nos casos em que o diagnóstico é
feito em até um ano depois da infecção, e sífilis tardia, quando o diagnóstico
é realizado após um ano.
A Sífilis
Primária tem como lesão específica o cancro duro ou protossifiloma, que surge
no local da inoculação em média três semanas após a infecção. É inicialmente
uma pápula de cor rósea, que evolui para um vermelho mais intenso e
exulceração. Em geral o cancro é único, indolor, praticamente sem manifestações
inflamatórias perilesionais, bordas enduradas, que descem suavemente até um
fundo liso e limpo, recoberto por material seroso. Após uma ou duas semanas aparece
uma reação ganglionar regional múltipla e bilateral, não supurativa, de nódulos
duros e indolores. Localiza-se na região genital em 90% a 95% dos casos. Assintomático,
muitas vezes não é referido. As localizações extragenitais mais comuns são a
região anal, boca, língua, região mamária e quirodáctilos. O cancro regride
espontaneamente em período que varia de quatro a cinco semanas sem deixar
cicatriz. A ausência de lesão primária geralmente decorria de transfusões com
sangue infectado (sífilis decapitada).
A Sífilis Secundária surge após
período de latência que pode durar de seis
a oito semanas, a doença entrará novamente em atividade. O acometimento afetará a pele e os órgãos internos correspondendo à
distribuição do T. pallidum por
todo o corpo.As lesões na pele
(sifílides) ocorrem por surtos e
de forma simétrica. Podem apresentar-se sob a forma de manchas de cor eritematosa (roséola sifilítica) de duração passageira. Novos surtos
ocorrem com lesões papulosas
eritêmato-acobreadas, arredondadas, de
superfície plana, recobertas por discretas escamas mais intensas na periferia (colarete de Biett). O
acometimento das regiões palmares e plantares é bem característico. Algumas
vezes a descamação é intensa, atribuindo aspecto psorisiforme às lesões. Na
face, as pápulas tendem a agrupar-se em volta do nariz e da boca, simulando
dermatite seborréica. Na mucosa oral, lesões vegetantes de cor esbranquiçada
sobre base erosada constituem as placas mucosas, também contagiosas. A sintomatologia geral é discreta e
não tem característica: mal-estar, astenia, anorexia, febre baixa, cefaléia,
meningismo, artralgias, mialgias, periostite, faringite, rouquidão,
hepatoesplenomegalia, síndrome nefrótica, glomerulonefrite, neurite do
auditivo, iridociclite. A fase secundária evolui no primeiro e segundo ano da
doença com novos surtos que regridem espontaneamente por períodos de latência
cada vez mais duradouros. Por fim, os surtos desaparecem, e um grande período
de latência se estabelece.
Os
pacientes com Sífilis Terciária desenvolvem lesões localizadas envolvendo pele
e mucosas, sistema cardiovascular e nervoso. Em geral a característica das
lesões terciárias é a formação de granulomas destrutivos (gomas) e ausência
quase total de treponemas. Podem estar acometidos ainda ossos, músculos e
fígado. No tegumento, as lesões são nódulos, tubérculos, placas
nódulo-ulceradas ou tuberocircinadas e gomas. As lesões são solitárias ou em
pequeno número, assimétricas, endurecidas com pouca inflamação, bordas bem
marcadas, policíclicas ou formando segmentos de círculos destrutivas, tendência
à cura central com extensão periférica, formação de cicatrizes e
hiperpigmentação periférica. Na língua, o acometimento é insidioso e indolor,
com espessamento e endurecimento do órgão. Lesões gomosas podem invadir e
perfurar o palato e destruir a base óssea do septo nasal.
O objetivo
do controle da sífilis é a interrupção da cadeia de transmissão e a prevenção
de novos casos. Evitar a transmissão da doença consiste na detecção e no
tratamento precoce e adequado do paciente e do parceiro, ou parceiros. Na
detecção de casos, a introdução do teste rápido em parceiros de pacientes ou de
gestantes poderá ser muito importante. O tratamento adequado consiste no
emprego da penicilina como primeira escolha e nas doses adequadas. Em situações
especiais, como aumento localizado do número de casos, o tratamento profilático
poderá ser avaliado. A prevenção de novos casos deverá ter como estratégia a
informação para a população geral e, especialmente, para as populações mais
vulneráveis (prostitutas, usuários de drogas intravenosas, etc.) sobre a doença
e as formas de evitá-la. É necessário o aconselhamento ao paciente procurando
mostrar a necessidade da comunicação ao parceiro e o estímulo ao uso dos
preservativos na relação sexual. A reciclagem constante e continuada das
equipes de saúde integra esse conjunto de medidas para prevenção e controle da
sífilis.
Obs.: A leitura do artigo proporcionou um
entendimento maior sobre a Sífilis, seus tipos e como o cirurgião dentista
também tem a possibilidade de detectá-los e encaminhar o mais rápido possível
para que o um especialista indicar o tratamento mais adequado para ser
realizado, minimizando os efeitos da sífilis.
Discente: Laísa Brenda de Holanda Cavalcanti
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